sábado, 9 de outubro de 2010

Magneto: Testamento


Desde Maus eu ficava me perguntando quando iam tocar tão profundamente no assunto do holocausto em uma revista em quadrinhos. Fizeram em Magneto: Testamento uma seca homenagem aos sobreviventes do maior massacre sistematizado que já ocorreu. Milhões de Judeus morreram durante a segunda guerra mundial e falar sobre isso ainda é um tabu, de certa forma. Hoje temos Ahrmadinejad negando publicamente o holocausto, papas pedindo desculpa pelos erros dos alemães, um cenário propício para uma discussão sobre os males gerados por este evento de dimensões mundiais. Uma discussão que precisa ser feita em todas as áreas.

Nos quadrinhos não é diferente. Então, pegamos o vilão mais carismático da história da Marvel, um vilão que tem uma história que envolve este momento. Magneto, o homem que vive pro valores segregacionistas e que, paradoxalmente, é sobrevivente da segregação racial.

O ponto de partida é o jovem Max Eisenhardt, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz/Birkenau e futuro Magneto, o jovem Max tem facilidade para encontrar ouro no meio do campo de concentração, mas nada que se possa chamar de superpoder. A história não é sobre como ele os ganhou, mas sobre como ele sobreviveu e como viu seu povo sendo dizimado e como isso influenciou sua formação.

Paradoxalmente, no futuro, Magneto será um vilão segregacionista, que acredita na superioridade do Homo Superior, o mutante. Quer usar as mesmas armas das quais foi vítima. Ver esta história dá mais camadas de cinza para o preto e branco do maniqueísmo simplista dos gibis. Eisenhardt é um sobrevivente, alguém que luta para ter o que comer. Por ser um sobrevivente, fica fácil entende-lo quando se tornar Magneto.

Magneto precisa da sensação de pertencimento. Sente-se culpado, de alguma forma, por não ter ajudado mais judeus. Não quer sentir a mesma culpa novamente. Seus atos extremos são fruto da forma como aprendeu a exercer a força. O mais forte sobre o mais fraco, ostensivamente. Proteger seus irmãos mutantes passa a ser um legado, o testamento do título.

A arte é bonita, o texto tem diversas referências históricas que enriquecem a experiência, mas, se não fosse Magneto, seria uma história bastante clichê, com as mesmas reviravoltas de sempre e até alguns buracos de roteiro (como foi mesmo que o pai de Max salvou a vida do oficial nazista?). A identificação com Eisenhardt não é difícil, já que é um personagem deveras carismático. Quem não gosta do sobrevivente? Quem não gosta do garoto que quer salvar a garota? Quem não gosta do judeu que luta para sobreviver ao holocausto?

No final, se queremos conhecer Magneto, esta é uma história de base bastante forte. Porém, se buscamos algo novo sobre Auschwitz/Birkenau, este não é o lugar certo para procurar, já que a história é contada do ponto de vista de sempre: o sobrevivente que deixa um legado. Sou mais Maus, obviamente.

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