sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Puny Parker



Tocante. Talvez esta seja a melhor palavra para definir “As Incríveis Aventuras do Pequeno Parker”, tirinhas que o artista Vitor Cafaggi apresenta em um blog (http://punyparker.blogspot.com/) e que conquistou todos os fãs brasileiros do homem aranha.

Ali, Vitor conta a história da infância do teioso, suas amizades na escola, o fato de ser CDF, a linda garotinha ruiva, tudo com sensibilidade, humor e beleza.

Calvin e Haroldo e Minduim são as referências mais claras no trabalho do artista,q eu traz toda uma aura oitentista, com referências a filmes, brinquedos e roupas da “década perdida”. Como sincero oitentista, devo dizer que adoro as brincadeiras e ter que encontrar algo tirado de um filme, uma música, um brinquedo, tudo pode se tornar referência e localiza-las é um prazer para quem viveu naquela época.

Além do Puny Parker, Vitor participou de algumas coletâneas de homenagem. A de maior destaque é MSP50, uma homenagem para Maurício de Souza onde cinquenta artistas brasileiros desenharam histórias com os personagens do criador da Monica. A história que ele conta com o Chico Bento é sensível e bonita. Também participou de “Pequenos Heróis” 1 e 2, onde conta histórias do Flash e (lógico) do Homem Aranha.

Enviei umas perguntinhas para o Vitor. Isso já faz um tempão e ele respondeu de pronto. Eu não conseguia publicar a matéria, o Blog ficou meio parado, mas agora consegui! Então, visitem o Puny, conheçam o trabalho e descubram um artista brasileiro de talento e sensibilidade sem iguais, com um trabalho simplesmente tocante.



1 - Qual foi a primeira revista em quadrinhos que você leu que te deu um start do tipo "Ah, eu quero fazer isso também."

A primeira revista que me marcou foi a Homem-Aranha nº 37 da Editora Abril. Era uma história incrível do Aranha enfrentando o Fanático. Me apaixonei na hora e, a partir dessa revista, comecei a colecionar de verdade quadrinhos. Antes disso, só comprava, ou ganhava revistas esporadicamente. Mas, acho que a vontade de fazer quadrinhos veio até antes disso, com a Turma da Mônica. Quando eu era muito pequeno, os quadrinhos de super heróis eram um pouco cansativos pra mim, tinham muito texto e valiam mesmo mais pelas imagens. A turma da Mônica não, eu queria ler a revista toda, eu queria entender o que aqueles personagens estavam fazendo. Conheci os quadrinhos do Maurício ainda bem pequeno graças a meu irmão mais velho e, naquela época, eu adorava passar minhas manhãs desenhando. O tempo foi passando e esses desenhos começaram a contar histórias.

2 - A Marvel conhece o Puny? Você já o mostrou para eles? O que eles pensaram sobre o Peterzinho?

Eu já mandei e-mails e uma carta mostrando as tirinhas pros editores da revista do Aranha na Marvel . Até pro caso deles me falarem pra parar de fazer isso, por questões legais, essas coisas. Mas, nunca tive resposta. Ia ser o máximo pra mim se um dia eles se manifestassem de forma positiva sobre o meu trabalho, mas hoje não me preocupo muito com isso. Gosto de pensar que, pelo menos eles estão avisados que eu estou fazendo isso, entenderam como uma homenagem aos personagens e às histórias deles e acharam que não tem problema.

3 - Peanuts. O que o trabalho do Schullz significa para você? As referências nas tirinhas do Puny vão desde o design que você deu aos personagens (o nariz do Peter, por exemplo, é igual ao do Charlie) até no próprio andamento das histórias, surgindo como uma referência direta, mostrando que existe ali enquanto inspiração.

O engraçado é que eu só fui ter um contato maior com as tirinhas do Schulz recentemente, bem depois de começar a fazer Puny Parker. Eu sempre adorei os desenhos animados do Charlie Brown (também por influência do meu irmão), eles me marcaram muito mesmo. Mas, quando era pequeno, achava as tirinhas dele um pouco sem graça, muito adultas. Já nessa época eu adorava as tirinhas do Calvin, do Bill Watterson. Que, por sua vez, era influenciado pelo Schulz! Assim, acho que o trabalho dele me influenciou indiretamente desde o começo.

4 - Que outros artistas te influenciam no Puny e em seus outros trabalhos?

Os trabalhos dos Bill Watterson e do Charles Schulz são, com certeza, minhas grandes influências em Puny Parker. Para mim, nosso jovem Peter Parker é um menino muito parecido com o Charlie Brown (tímido, azarado, apaixonado..) que vive uma vida parecida com a do Calvin (problemas com valentões na escola, tem uma imaginação muito fértil e figuras paternas bem marcantes).

Fora esses, vários artistas me influenciam de um jeito ou de outro. Alguns deles: Adam Hughes, Bruce Timm, Olivier Coipel, Frank Cho, os Romitas (pai e filho), Dave Stevens, Arthur Adams.. são muitos mesmo.

5 - Na coluna onde você fala sobre o trabalho na MSP50, você afirma que já sabia que personagem ia querer trabalhar. Seu desenho é diferente (um desenho lindo, lúdico, expressivo, que brinca com os limites do traço). nesta mesma coluna, você diz que aquele é seu traço tradicional. Quando veremos mais trabalhos naquele traço? (lembro que na primeira temporada do Puny tem uma tira onde você brinca com Peter e MJ adultos, e é uma história ótima)

Desde sempre meus dois personagens favoritos da Turma da Mônica são o Chico Bento e o Cebolinha. Então, logo pensei que minha história tinha que ser de um deles. Depois de uma vida inteira lendo as histórias desses dois, eu tinha na cabeça vários temas pra histórias que eu queria contar. Acabei escolhendo trabalhar com o Chico por sentir que eu conhecia melhor o personagem, talvez por me identificar mais com ele.

Desde o ano passado estou desenhando uma revista nesse meu estilo tradicional. Pretendo lançar ela esse ano ainda, no final de outubro. Vai ser uma história de 100 páginas com uma temática ligeiramente diferente de tudo que eu já fiz. Outra diferença dela pra história no MSP50, é que essa vai ser em preto e branco.

6 - Qual a dica que você dá para quem quer começar a escrevere desenhar quadrinhos?

Tanto pra escrever, quanto pra desenhar, é legal que você leia bastante. Que tenha contato com vários tipos diferentes de histórias e desenhistas, pra buscar referências e até pra saber o que já está sendo feito. Procura ser original nas suas ideias, fugir dos modismos e pense em fazer histórias que realmente queiram dizer alguma coisa pras pessoas, que acrescentem nas vidas delas. Desenhe todos os dias, faça tudo com amor de verdade àquilo que está fazendo e treine bastante, mas, muito mesmo.

7 - Hoje você vive da sua arte? Se não, o que faz para ganhar dinheiro?

Eu comecei a fazer quadrinhos a um ano e meio. Antes disso, eu tinha dois empregos, trabalhava de oito da manhã, às dez da noite. Quando decidi que queria pelo menos tentar fazer quadrinhos, larguei um desses empregos e mantive o outro. O Puny Parker era só uma brincadeira que acabou me trazendo convites pra participar de projetos legais como o Pequenos Heróis do Estevão Ribeiro e o MSP50. Ainda estou no começo, tenho muita coisa pra aprender, fora que ainda desenho num ritmo lento. Não consigo ainda viver de quadrinhos, quem sabe, daqui a uns dois ou três anos. Hoje, recebo bem menos do que recebia a dois anos atrás, mas é aquilo que eu falei sobre amar aquilo que a gente faz, a satisfação que fazer quadrinhos me traz, supera qualquer coisa.

Um comentário:

Vitor Cafaggi disse...

Como você disse, já tem bastante tempo que eu respondi essa entrevista. Já tinha até esquecido como eu tinha gostado dela.
Gostei muito do texto de abertura, do "tocante".. enfim, de tudo.
Obrigado, abraço e sucesso aí pra você.

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