quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Wall Street - O dinheiro nunca dorme, já os roteiristas...

Se há uma coisa que me incomoda é incoerência em personagens no cinema. Afinal, já sabemos qual é a índole deles a partir de certo ponto do filme e esperamos que suas atitudes reflitam esta índole até o grand finale.
Parece que os roteiristas e o diretor de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme dormiram no ponto em relação a este pequeno detalhe de enredo.
Tudo corre bem até certo ponto. O filme é bem amarrado, a história é bem contada e os personagens bem construídos na primeira metade da película. Por se tratar de um filme sobre Wall Street, uma continuação de outro que falava dos mesmos assuntos, você está familiarizado com aquele tipo de atitude. Todos são tubarões, todos querem comer dinheiro, todos querem jogar o jogo para vencer.
Em certo ponto as peças estão na mesa. O jovem idealista e vingativo, Jakob Moore (Shia LaBeouf), a pequena e indefesa namorada (Carey Mulligan, pode chamar de "Carey, a estranha" que não vamos estranhar), filha (clichê dos clichês!) do ex-lobo-mau de Wall Street Gordon Gekko (Mais uma vez ricamente interpretado por Michael Douglas), o vilão Bretton James (Josh Brolin, poderoso e cínico). Você mais ou menos sabe o que esperar de cada um deles.
Como eu disse, até certo ponto, próximo ao final, o filme corre muito bem, obrigado. Michael Douglas, inspírado, com um texto que faz píadas com a própria vida do ator (as histórias sobre o câncer, no filme, ficam com muito mais sentido se você sabe que ele está enfrentando uma batalha contra a doença na vida real), Shia LaBeouf (nomezinho morfético!) não atrapalhando, Susan Sarandon brincando de interpretar uma mulher paranóica (ela anda acostumada a este papel, não é?), Charlie Sheen (Sim! Contei o maior Spoiler do filme!) fazendo uma ponta quase como um Charlie Harper...
Então, desculpe a directiva, a farinha é jogada no ventilador e tudo se confunde. Você sabe que Gekko ia fazer aquilo, você sabe que Jakob ia cair, você sabe porque foi avisado desde o início do filme, desde antes, na verdade. Simplesmente porque você sabe quem é Gordon Gekko.
E não é que você descobre que ele não é nada daquilo?
E aí o filme perde a graça.
Porém, isso não tira a riqueza do filme até aquele ponto. Tudo o que aconteceu antes vale o ingresso. Todo o enredo, a trama bem amarrada, a história bem configurada, Wall Street é um bom filme, com um péssimo final. Só isso.
E fica a dica: diretores (entenda-se Oliver Stone) queremos respeito pelos personagens que acreditamos conhecer. Quer mostrar uma nova faceta? Não se permita um final pequeno-burguês-happy-end só porque é bonitinho. Não tem nada de bonitinho em Wall Street, tudo o que eles querem ver é o sangue dos adversários.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails