Para quem realmente gosta de
quadrinhos, não gostar de Robert Crumb pode ser quase um sacrilégio. Eu era,
então, um pecador. Fora os trabalhos com Harvey Pekar, de American Splendour,
nunca gostei do autor do gato Fritz, um dos ícones da contracultura americana.
Até ele resolver desenhar um dos
livros mais poderosos da cultura ocidental. A narrativa do Gênesis, primeiro
livro da bíblia.
Quando li a notícia que de ele
estava trabalhando no Gênesis, não consegui evitar o pensamento “isso não vai
dar certo”. Imaginar Crumb respeitando o livro sagrado era como imaginar Hitler
tendo uma amante judia, ou o diabo se convertendo e se arrependendo de seus
pecados.
Pois não foi que ele o fez?
Palavra por palavra, a história está lá. Sem tirar nem por, apenas
representada, desenhada de acordo com o que Moisés escreveu conforme Deus lhe
falara. A história da origem do mundo e da origem dos povos Hebreu e Muçulmano.
O texto escolhido foi a base das três maiores culturas monoteístas do mundo.
Não se trata, portanto, de escrito qualquer. Se ainda não tivesse poder
espiritual, ainda teria a importância histórica que carrega.
Crumb pesquisou por quatro anos o
livro e o tempo daquele povo. Consultou sua cultura, sua história. Pesquisou
mais livros, historiadores e fez algo que, muitas vezes, não vemos em
adaptações lideradas por cristãos (Crumb é ateu) que é o respeito total ao
texto escrito.
A editora Conrad deu tratamento
especial para o livro, que tem capa dura, páginas de papel de alta qualidade e
tamanho diferenciado, respeitando o tamanho desenhado pelo autor e editado no
original.
Por tudo isso, trata-se, no
mínimo, de um trabalho curioso. Como já disse sobre ele, serve, para os que não
acreditam, para aprender sobre a história da cultura ocidental. Para os que
acreditam, dar rosto para personagens tão conhecidos como Abraão, José e
outros.
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