sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Complexo de Messias


Nós sofremos demais por acreditar que somos diferentes de toda a sociedade. Sofremos por pensar que temos um peso maior do que o resto do mundo para carregar. Sobre nossos ombros jaz o cadáver do Deus Perfeito, que se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos sua glória.
Então ele morreu.
E a história nos mostra que Ele morreu por nós, para que nossos pecados fossem perdoados.
Então, paramos de ver a sua glória e tudo o que sentimos é o peso de sua cruz sobre nossos ombros cansados e nossas vidas combalidas.
Sofremos do que chamo de “Complexo de Messias”, que é uma derivação do “Complexo de Superioridade” e consiste em crer que eu tenho um papel fundamental dentro do grande plano universal para a humanidade e que, graças a mim, o mundo será transformado.
Em nossa vida, nós buscamos três coisas básicas: satisfação, uma liderança a seguir, um propósito a alcançar. O complexo de messias se baseia nesta terceira busca que temos. O propósito. Quando olhamos para o céu, vemos as estrelas e questionamos como, sendo tão pequenos, podemos ser escolhidos? Aí pensamos na infinidade do poder de Deus e na enorme distância que nos separa dele. A cruz pesa um pouco mais sobre nossos ombros. O cadáver do Deus Perfeito ainda está quente em nossa mente. Seu sangue ainda escorre em nossas roupas. Não podemos decepcioná-lo.
Aí o complexo nos toma. Não podemos decepcionar a Deus. Pregadores falam sobre servir ao Senhor com todo o seu coração. Falam sobre as imperfeições de cada um de nós, sobre o quanto somos ridículos, que temos que entregar nossas vidas a Jesus.
E tudo parece fazer parte de um plano onde o nosso esforço é a mola mestra para nos levar a Cristo. E muitos de nós passam a vida inteira tentando construir uma ponte sobre o abismo, sendo que, com o sacrifício de Jesus, o abismo já não está mais lá.
Contra este Complexo de Messias, indico Brennan Manning e seu evangelho maltrapilho. Manning aprendeu a duras penas (vítima do alcoolismo) o valor da graça, e o fato de que, não sendo perfeito, Deus o amava mesmo assim. Ele se livrou do complexo de messias e da necessidade de ser perfeito diante de um Deus que entende nossas imperfeições.
Mas nem por isso paralisou a busca por aperfeiçoamento. No jornalismo, um conceito muito famoso é a “Objetividade possível”, que diz que nós nunca conseguiremos chegar à verdade, pois o fato já aconteceu e a verdade é algo que está no passado. Porém, por meio do maior número de versões, informações, nós podemos chegar próximos da verdade, buscando sempre por ela. Na vida cristã, o conceito se mostra o mesmo. Nós nunca seremos perfeitos, mas nem por isso devemos deixar de tentar alcançar a perfeição.
Eu escrevi tudo isso apenas para falar sobre o livro “Meditações para Maltrapilhos”, de Manning. Ele combate até o fim o Complexo de Messias e nos mostra que, mesmo imperfeitos, somos amados por Deus, que quer que entreguemos o controle de nossas vidas em suas mãos.
Meditações é um livro devocional para se ler durante um ano. Compila o melhor do pensamento deste autor, que entende a graça como nenhum outro que eu tenha lido anteriormente. Manning acredita que as coisas estão erradas e o início do erro está naqueles que tem o papel de apresentar a Cristo para todos nós.
Hoje, Cristo é uma mercadoria de troca no mercado da fé. Em muitos lugares, o que ouvimos sobre nosso Senhor não tem qualquer analogia com o que é real. Vemos um Cristo que não quer mudar a humanidade, que a aceita como está, e tudo o mais. Este é o oposto absoluto ao Complexo de Messias: a humanização exacerbada de Deus.
Ele é perfeito e nos ama imperfeitos. Não tem pecados, mas nos ama pecadores. Mas isso não quer dizer que aceite a situação que vê em nossas vidas.
Dentro deste paradoxo (a perfeição de Deus contra a imperfeição do homem), Manning transmite as boas novas de que, ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, a mão do Senhor ainda segura a nossa mão, e seus olhos ainda olham nossos olhos, e todo o peso de “responsabilidade e culpa” podem sair de nossos ombros.
Leia Manning e você entenderá o que estou dizendo. Deus te ama, mas quer te transformar. Ele não quer que você o faça sozinho, ou que tente merecer o Seu amor (você nunca conseguirá isso). Ele só quer que você o ame, e, por meio deste amor, encontre o verdadeiro Messias, que não é você.

Meditações para Maltrapilhos
Brennan Manning
Editora Mundo Cristão
2008

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails